Como era mesmo?

A toda hora, somos capazes de recuperar aspectos de nosso passado: é
como se nos contássemos histórias a nós-mesmos, alguns chegam a registrálas
em forma de diário. Mas o relato primordial é o que pode ser feito a outras
pessoas: através dele, o que vivemos e que é bem nosso ganha uma dimensão
social, obtém testemunhas (mesmo que a posteriori), faz com que
os outros ampliem sua experiência, através das nossas palavras. Há troca e
cumplicidade. Viver, para Contar (a vida), o título das memórias de Gabriel
García Márques, serve para todos nós. Viver algo notável gera a necessidade
de contar: você sabe o que eu vi? você sabe o que me aconteceu ? E tudo o
que nos acontece é notável porque nos concerne. É interessante notar que
estudiosos supõem ter a linguagem se originado, em nossa espécie, a partir
da representação de situações sociais; talvez se possa dizer, parafraseando
García Márquez, que se nos lembramos é para poder contar.

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