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Artistas e coletivos vêm, cada vez mais, se apropriando do ato de bordar como manifestação artística

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O ato de bordar vem de longe. Depois de permear muitas gerações exclusivamente como ornamento - inventando motivo para reunir mulheres de uma mesma família na produção de roupas e enxovais -, o bordado vem se multiplicando em rodas coletivas de artistas e deixando cada vez mais a alcunha de mero enfeite para firmar-se também como expressão artística. Artistas renomados e tantos outros ainda anônimos do público passaram a costurar desenhos e palavras em peças capazes de inquietar e abrir um extenso leque de novos significados. Na superfície vazia, linhas passaram a ganhar formas e compor objetos e telas levados ao público em exposições ou mesmo no espaço urbanos das cidades. A proximidade do bordado com as artes plásticas, que vem se estreitando nos últimos anos, faz um convite ao público para olhar o mundo sob um novo panorama e, ainda, para vislumbrar que o ato de bordar, tão forte na nossa cultura e na nossa história, é também um canal de expressão artística e representação subj

Se assim pudermos dizer, o bordado é um personagem tão antigo na história da humanidade quanto a nossa própria existência.

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Riscar: Fio a Fio para Começar o tecido Riscar : esta etapa consiste em criar, ou utilizar, os padrões de desenhos para transferir o modelo de bordado para o tecido, geralmente algodão no Nordeste do Brasiliii. Usualmente se utiliza desenhos em papel, papel vegetal e mais usualmente papel para pão, e se transfere para o tecido usando lápis grafite. “No bordado e na renda cada ponto é um pensamento” Desfiar : O “efeito penélope” A etapa de desfiar consiste em ir retirando do tecido fios para a composição de vazios que serão nas fases seguintes (encher e torcer) conformadas em um desenhos formado com os espaços vazios e os espaços que serão preenchidos com o bordado Encher: Refazer a história pelo bordado A etapa de encher no labirinto consiste em fazer o desenho bordado nos espaços complementares nos espaços formados pelo tecido desfiado. As tramas obtidas constituem uma nova trama que nas fases seguintes serão progressivamente conformadas no bordado.

BORDADO EM TULE | LAVANDAS

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O FIO GUARDA A MEMÓRIA

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O fio criando conversas a gente sem pressa se põe a lembrar Alinhava um afeto noutro e nem sente o tempo passar. As linhas que bordam o tecido se encontram e se espalham, criando aquela disposição genuína para amar. Almas se entregam ao tecer, universos inteiros de saudade e saber. Bordado é encontro, onde alinhavo meus dias entre nós… Uma bordadura de avesso, passados e presente. Mãos que produzem efeitos, decifram enigmas Feitos de um fio encantado para gente acreditar: Bordado é oração. Marissol Melo

O fio criando conversas a gente sem pressa se põe a lembrar Alinhava um afeto noutro e nem sente o tempo passar.

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Da minha vida eu sou uma artesã. E vou bordando minha história. Momentos felizes são bordados com fios de ouro para sempre lembrar do seu valor. Momentos tristes são bordados com fios de seda para que o tempo os torne suaves. Deus não nos dá a agulha das horas no aurorear do amanhecer, só para cerzir os rasgos, que por descuido fizemos no tecido rendado do tempo, mas sobretudo, para bordar um dia novo com a linha do recomeço.

Poesia é um bordado fino, feito com delicadeza sobre o tecido rústico da realidade.

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Toda Manhã Bem antes que amanheça E a Noite tecelã Recolha o bordado de estrelas Um Ar com aroma de hortelã Me invade o nariz Noite escura ainda Puro breu de vela que não se acendeu Sucumbe aos Sóis que nascem E a contagem dos dias progride Toda noite Páira-me sobre a cabeça Uma lanterna acesa A vida carrega nas ondas O velho frescor da framboesa O vento leva As flores laranjeiras O tempo vai passando Quarta, quinta, sexta-feira Um dia qualquer Duma manhã à toa Passou-se A boa vida inteira

Filme Tingimento Natural com Índigo: da germinação à extração do pigment...

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Bordar é viver atento aos detalhes...

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Se assim pudermos dizer, o bordado é um personagem tão antigo na história da humanidade quanto a nossa própria existência

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Folhas bordadas

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O Bordar como Poesia - Embroidery as Poetry

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A vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.

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A agulha e o fio darão o tom do bordado, porém são os bastidores que darão a sustentação necessaria para a malha suportar o bordado. Sem bastidor, o trabalho do bordador torna se arduo e dificilmente conseguira a simetria desejada. Porem é somente a visão e a habilidade do bordador que dara sentido e cor a obra.

“Através de um aperto de mão, a gente pode fortalecer um amor delicado”

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Todo bordado algum dia precisa ser concluído. Na mistura de linhas e cores, as formas aparecem e trazem memórias. Cada bordado é diferente, mesmo que o risco seja o mesmo. As histórias de vida, uma vez bordadas, abrem caminho para outras histórias, para releituras e interpretações, e novos bordados. Assim surgem novos projetos, novos textos, novos bordados e todos podem ser ressignificados a partir da experiência, tendo em vista a justiça de gênero. No espiral da vida, a vida é bordada, o bordado cria vida que inspira um novo bordado, e assim vai.

O sonho, desejo ou necessidade antecede o desenho de um projeto. O ser humano tem muitos sonhos, desejos e necessidades. Somente alguns se transformam em projeto. Para que seja um projeto, é necessário reconhecê-lo ou transformá-lo em projeto. Assim nascem textos e bordados. Ambos são materializações de projetos.

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No bordado, o pincel é a agulha. As tintas são as linhas e a tela, o tecido. No texto, o pincel e a agulha são o teclado. Na pintura e no bordado, a arte é produzida e fica guardada em telas e tecidos. Para apreciá-las, é preciso estar presente.A coragem de contar a própria história exige tornarse vulnerável. É na vulnerabilidade que há espaço para criatividade, desconstrução e reconstrução, e isso nunca é fraqueza, mas coragem. Coragem, a definição original de coragem [...] é da palavra cor no latim, que significa coração – e a definição original era contar a história de quem você é com todo o seu coração. E assim essas pessoas tinham, muito simplesmente, a coragem de ser imperfeitas. Elas tinham compaixão para ser gentis em primeiro lugar consigo mesmas e, em seguida, para com as outras pessoas, porque, como se vê, não podemos praticar a compaixão com outras pessoas, se não podemos tratar-nos amavelmente. E a última foi que elas tinham conexão, e – esta foi a parte m

A criação da escola Bauhaus trás consigo uma vontade de unir a arte e o artesanato em torno da criação de objetos que aliassem beleza a funcionalidade.

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A partir desse momento outras possibilidades se criaram para o artesanato. Devidos as vanguardas artísticas que predominaram no início do século, seu desenvolvimento é marcado pela experimentação na arte. Conseqüentemente, novos materiais e novos métodos de produção de imagem são explorados pelos artistas. Isso se reflete na produção de arte contemporânea que expandiu imensamente seu campo de trabalho reincorporando o bordado, tanto como tema de discussão quanto como técnica de elaboração de imagem. No Brasil podemos citar artistas como: Arthur Bispo do Rosário, Leonilson, Lia Menna Barreto e Letícia Parente, entre outros

As artes têxteis, e em particular os bordados, parecem ser o caso de objetos “naturalmente atrelados ao fazer feminino”.

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O que faz do ato de bordar uma prática vista como “naturalmente” feminina? Por que quando realizado por homens só pode ser compreendido mediante o estigma da ambigüidade? É possível considerar o bordado como um tipo de arte? Uma toalha em bilro ou em renda exige sofisticação técnica, mas, então, por que é considerada artesanato e não arte?

Herb Ellis & Remo Palmier ‎– Windflower (1978)

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A VANGUARDA DOMÉSTICA

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Esta possibilidade feminina de espiar nas costuras para ver as construções pelo avesso abre à mulher, em sua relação com a escrita, o caminho da vanguarda. Vanguarda velha e nova na qual os textos deixam o leitor jogar com a artificialidade da feitura. E é na milenar escola das tarefas domésticas onde se aprendem as regras dessa modernidade. Velho como o mundo, somente o trabalho inútil e calado pode conseguir enlaces novos. KAMENSZAIN, Tamara. “Bordado y costura del texto”. Historias de amor (y otros ensayos sobre poesía). Buenos Aires: Paidós, 2000.

Memória corporificada na conversa, a das mulheres encontrou também seu lugar de registro na escrita: o diário íntimo, as cartas, os cadernos garatujados com receitas de cozinha, os cancioneiros acumularam durante séculos porções de idioma familiar.

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Sentadas no centro da casa, somente as mulheres podiam enraizar o romance no fluir memorioso que caminha pela árvore genealógica. [...] o estudo e a expressão do fluir, o idioma da paixão consequente, a dor de perder a imagem no tempo e a doçura de recuperá-la na memória, tudo isto constitui, a meu ver, uma matéria literária sobre a qual a mulher pode alegar direitos quase naturais. E digo quase naturais porque, como já adiantei, a mulher não possui tal caráter em exclusividade, mas em alto grau de excelência em relação ao homem: a literatura de Proust, no entanto, revela muito de tal caráter.

Se a escrita e o silêncio reconhecem um ao outro nesse caminho que os separa da fala, a mulher, silenciosa por tradição, está próxima da escrita. Silenciosa porque seu acesso à fala nasceu no cochicho e no sussurro, para desandar o microfônico mundo das verdades altissonantes.

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Sussurrante conversa de mulheres foi criando uma cadeia inquebrantável de sabedoria por transmissão oral que nunca foi reunida em livros.... Como a escrita não quer dizer nada, sua estranha “conversa” não pode ser recolhida em manuais e apenas o oral sabe transmiti-la. E se a oralidade é o maternal por excelência – o seio fala, a boca do filho apre(e)nde – pode-se dizer que o elemento feminino da escrita é a mãe. Com a mãe se aprende a escrever.

Há relações possíveis entre bordado e corpo? Penso que a história da vida é feita de pontos infinitos nos quais sujeitos vivem cotidianamente seus corpos mediados por saberes culturais múltiplos que são costurados por linhas de cores e texturas diversas

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Devido ao seu historial doméstico, essas práticas estão ligadas a uma memória coletiva de ambiente familiar, da infância e do lar. Essa memória mostra-se como transfiguração de uma questão recorrente na arte de hoje: a intimidade do indivíduo. Percebo esse intuito poético como expressão da necessidade do indivíduo de nossa época em firmar sua identidade. Mostrar origens é um eficaz modo de falar das nossas raízes.”

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