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Mostrando postagens de maio, 2019

A criação da escola Bauhaus trás consigo uma vontade de unir a arte e o artesanato em torno da criação de objetos que aliassem beleza a funcionalidade.

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A partir desse momento outras possibilidades se criaram para o artesanato. Devidos as vanguardas artísticas que predominaram no início do século, seu desenvolvimento é marcado pela experimentação na arte. Conseqüentemente, novos materiais e novos métodos de produção de imagem são explorados pelos artistas. Isso se reflete na produção de arte contemporânea que expandiu imensamente seu campo de trabalho reincorporando o bordado, tanto como tema de discussão quanto como técnica de elaboração de imagem. No Brasil podemos citar artistas como: Arthur Bispo do Rosário, Leonilson, Lia Menna Barreto e Letícia Parente, entre outros

As artes têxteis, e em particular os bordados, parecem ser o caso de objetos “naturalmente atrelados ao fazer feminino”.

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O que faz do ato de bordar uma prática vista como “naturalmente” feminina? Por que quando realizado por homens só pode ser compreendido mediante o estigma da ambigüidade? É possível considerar o bordado como um tipo de arte? Uma toalha em bilro ou em renda exige sofisticação técnica, mas, então, por que é considerada artesanato e não arte?

Herb Ellis & Remo Palmier ‎– Windflower (1978)

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A VANGUARDA DOMÉSTICA

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Esta possibilidade feminina de espiar nas costuras para ver as construções pelo avesso abre à mulher, em sua relação com a escrita, o caminho da vanguarda. Vanguarda velha e nova na qual os textos deixam o leitor jogar com a artificialidade da feitura. E é na milenar escola das tarefas domésticas onde se aprendem as regras dessa modernidade. Velho como o mundo, somente o trabalho inútil e calado pode conseguir enlaces novos. KAMENSZAIN, Tamara. “Bordado y costura del texto”. Historias de amor (y otros ensayos sobre poesía). Buenos Aires: Paidós, 2000.

Memória corporificada na conversa, a das mulheres encontrou também seu lugar de registro na escrita: o diário íntimo, as cartas, os cadernos garatujados com receitas de cozinha, os cancioneiros acumularam durante séculos porções de idioma familiar.

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Sentadas no centro da casa, somente as mulheres podiam enraizar o romance no fluir memorioso que caminha pela árvore genealógica. [...] o estudo e a expressão do fluir, o idioma da paixão consequente, a dor de perder a imagem no tempo e a doçura de recuperá-la na memória, tudo isto constitui, a meu ver, uma matéria literária sobre a qual a mulher pode alegar direitos quase naturais. E digo quase naturais porque, como já adiantei, a mulher não possui tal caráter em exclusividade, mas em alto grau de excelência em relação ao homem: a literatura de Proust, no entanto, revela muito de tal caráter.

Se a escrita e o silêncio reconhecem um ao outro nesse caminho que os separa da fala, a mulher, silenciosa por tradição, está próxima da escrita. Silenciosa porque seu acesso à fala nasceu no cochicho e no sussurro, para desandar o microfônico mundo das verdades altissonantes.

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Sussurrante conversa de mulheres foi criando uma cadeia inquebrantável de sabedoria por transmissão oral que nunca foi reunida em livros.... Como a escrita não quer dizer nada, sua estranha “conversa” não pode ser recolhida em manuais e apenas o oral sabe transmiti-la. E se a oralidade é o maternal por excelência – o seio fala, a boca do filho apre(e)nde – pode-se dizer que o elemento feminino da escrita é a mãe. Com a mãe se aprende a escrever.