Memória corporificada na conversa, a das mulheres encontrou também seu lugar de registro na escrita: o diário íntimo, as cartas, os cadernos garatujados com receitas de cozinha, os cancioneiros acumularam durante séculos porções de idioma familiar.

Sentadas no centro da casa, somente as mulheres podiam enraizar o romance no fluir memorioso que caminha pela árvore genealógica. [...] o estudo e a expressão do fluir, o idioma da paixão consequente, a dor de perder a imagem no tempo e a doçura de recuperá-la na memória, tudo isto constitui, a meu ver, uma matéria literária sobre a qual a mulher pode alegar direitos quase naturais. E digo quase naturais porque, como já adiantei, a mulher não possui tal caráter em exclusividade, mas em alto grau de excelência em relação ao homem: a literatura de Proust, no entanto, revela muito de tal caráter.

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