“Anonymous Was a Woman”

Em “Anonymous Was a Woman”, Schapiro escolheu uma série de modalidades tradicionalmente consideradas inferiores, por serem supostamente “femininas” e “domésticas”, tais como as toalhas de mesa, guardanapos e pequenos tecidos bordados, retirou-as de seus contextos apartados e inferiorizados, e exibiu-as como objetos artísticos.


O título da obra alude a um outro aspecto político do campo das artes: um dos elementos decisivos para a definição de uma obra como artística é o fato de a mesma ser assinada, ou seja, ser fruto de um sujeito reconhecido, socialmente, como artista.
Nesse sentido, a proposição de Schapiro é incisiva: os trabalhos artesanais, geralmente anônimos, são também femininos: “o anônimo era uma mulher”.

Vale notar que, muito embora a artista chame a atenção para a desvalorização dos produtos e produtores não consagrados pelo campo artístico dominante, o faz num plano eminentemente discursivo, e não prático: afinal, mesmo expondo colagens de obras tradicionais feitas por mulheres anônimas, sua própria obra é autoral, assinada e exposta em espaços legítimos.

A artista exibe as desigualdades, aponta as hierarquias, mas isso não se traduz em uma mudança estrutural: os museus e galerias “badalados” dificilmente acolhem em seus espaços obras artesanais e anônimas.
Assim, o que se exibe são os valores e discursos de Miriam Schapiro, a artista reconhecida enquanto tal.

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