MARGARET ATWOOD E A ODISSÉIA DE PENÉLOPE.....


O bordado é também, por excelência, o ardil inventado por Penélope para adiar o reconhecimento da morte de Ulisses, que seria consumado uma vez que ela aceitasse um dos pretendentes......

Lugar do não-lugar, da ausência, da perda, da falta e da
negatividade que a objetificação patriarcal reservou para a mulher, sobretudo, da
representação dos processos femininos de subjetificação e empoderamento, que se
configuram anuladores daqueles escolhos antigos de opressão.
De fato, após passar bem mais que dois milênios nos Campos Elíseos, a
morada das almas virtuosas da Casa de Hades, a esposa de Odisseu percebe-se
amadurecida e possuidora de uma percepção altamente crítica e irônica dos fatos, como
ela mesma afirma na abertura da Capítulo 1: “Agora que morri, sei de tudo”. Isso lhe
confere a sabedoria e a agência indispensáveis para, por assim dizer, desmantelar as
versões dos episódios e as histórias sobre as mulheres que aparecem em A Odisséia, até
então sempre tidas como “verdadeiras”. Nessa obra, Atwood desconstrói e carnavaliza
as convenções épicas, mesclando-as com gêneros narrativos múltiplos e criando uma
atmosfera propícia para dar voz às escravas (que tinham sido enforcadas em A Odisséia por Odisseu e seu filho Telêmaco) e à Penélope, que então reconta a sua história desde o
seu nascimento até o retorno de Odisseu, assim como a das malfadadas escravas.
 O
mais interessante de tudo é que todas essas vozes femininas falam com a absoluta
liberdade conferida pela condição de serem espíritos narrando e reavaliando fatos e
versões de fatos supostamente ocorridos há cerca de três mil anos.

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